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Aprendizado

Por que fazer elogio é bom para quem o faz – mesmo que ele não saiba

Nicole Rizzutti Lemos

Publicado

em

Tempo de Leitura: 5 minutos

“A feliz elaboração de um elogio”, observou certa vez o escritor americano Mark Twain, “é um dos mais raros dons humanos, e a feliz expressão deste, é outro.”

Twain estava descrevendo um encontro com o imperador da Alemanha, que havia elogiado seus livros.

Mas todos nós podemos, sem dúvida, nos identificar com este sentimento: receber elogios sinceros e bem elaborados pode ser tão bom quanto um golpe de sorte inesperado.

Infelizmente, nossa ansiedade em relação a como os outros podem perceber nossas próprias palavras pode nos impedir de fazer elogios.

Afinal, ninguém quer parecer desajeitado, paternalista ou puxa-saco.

“Elogios são a maneira mais fácil de fazer outras pessoas — e, como resultado, nós mesmos — se sentirem melhor”, diz Nicholas Epley, professor de ciência comportamental da Universidade de Chicago, nos EUA.

“Mas quando um pensamento apreciador vem à mente, as pessoas geralmente não expressam.”

Três novos estudos sobre a psicologia de fazer e receber elogios sugerem, no entanto, que nossos temores em relação à maneira como nossos elogios serão recebidos são completamente infundados.

E, ao nos livrarmos desse desconforto, todos nós poderíamos ter um relacionamento melhor com nossos amigos, familiares e colegas.

A regra da reciprocidade

Só há relativamente pouco tempo é que os psicólogos passaram a prestar mais atenção aos elogios, com a maior parte das primeiras pesquisas analisando seu potencial persuasivo.

Em um estudo memorável de 2010, Naomi Grant, professora associada de psicologia na Mount Royal University em Calgary, no Canadá, convidou os participantes a participar de um estudo sobre “formação de impressões”.

Enquanto os participantes preenchiam um questionário um tanto enfadonho, um ator — se passando por um estudante iniciante de psicologia — puxava um papo que envolvia elogiar casualmente as roupas do participante.

Depois de um pouco mais de conversa fiada, o ator mencionava que estavam distribuindo panfletos sobre um evento profissionalizante na universidade e perguntava ao participante se ele gostaria de pegar alguns para distribuir.

Os efeitos do elogio foram dramáticos: 79% dos participantes ofereceram ajuda para divulgar o evento, em comparação com apenas 46% dos participantes de um outro grupo de controle, que não receberam o elogio.

O estudo mais recente de Grant mostra que isso vem de um senso de reciprocidade.

Em geral, quanto mais as pessoas acreditam que uma boa ação merece outra, mais propensas são de acompanharem o elogio com uma ação prestativa.

Em inglês, costumamos dizer que estamos “paying” someone a compliment (“pagando” um elogio a alguém, em tradução literal) — e a pesquisa de Grant sugere que geralmente consideramos isso como parte de uma transação.

O senso de reciprocidade também pode explicar por que o feedback positivo pode ser uma ferramenta tão poderosa no ambiente de trabalho.

Um estudo realizado por pesquisadores da empresa de tecnologia Intel e da Duke University, nos EUA, mostrou que elogios verbais eram mais eficazes para aumentar a produtividade do que bônus em dinheiro.

“As pessoas geralmente não percebem que algo tão pequeno pode ter um impacto tão grande“, explica Vanessa Bohns, professora de psicologia social na Universidade Cornell, nos EUA, e autora de You Have More Influence Than You Think (“Você tem mais influência do que pensa”, em tradução literal).

Benefícios esquecidos

Infelizmente, a própria pesquisa de Bohns mostra que raramente valorizamos o poder de nossas palavras.

Em parceria com Erica Boothby, da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, Bohns pediu aos participantes que fossem a um local designado no campus e fizessem um pequeno elogio a um estranho aleatório.

(Para reduzir possíveis mal-entendidos sobre sua motivação, os participantes foram orientados a abordar alguém do mesmo sexo.)

Para avaliar seus preconceitos, os participantes primeiro tiveram que estimar o quão satisfeita, lisonjeada ou desconfortável a pessoa se sentiria ao receber o elogio.

Depois de fazerem o comentário, eles entregaram ao destinatário do elogio um envelope lacrado contendo um pequeno questionário sobre como o estranho realmente se sentiu em relação à interação.

Após vários experimentos, os pesquisadores descobriram que os participantes subestimaram significativamente o quão feliz a outra pessoa ficaria ao ouvir o elogio, e superestimaram consideravelmente o quão constrangedora seria a situação.

‘Elogios são a maneira mais fácil de fazer outras pessoas — e, como resultado, nós mesmos — se sentirem melhor’, diz o professor Nicholas Epley

“Eles sentiam que essa interação seria muito esquisita e que seriam meio desajeitados (ao fazer o elogio)”, diz Bohns.

Mas a troca real foi muito mais agradável.

Epley tem analisado ideias semelhantes com Xuan Zhao, psicóloga da Universidade de Stanford, nos EUA — mas, em vez de se concentrar em trocas entre estranhos, eles pediram aos participantes que elogiassem alguém que já conheciam.

Assim como Bohns e Boothby, Epley e Zhao descobriram que os participantes eram consistentemente pessimistas em suas previsões de como seria a interação.

Eles presumiram que seus conhecidos ficariam menos satisfeitos e mais constrangidos do que realmente se sentiram ao receber o elogio.

Investigando mais a fundo, Epley e Zhao descobriram que esses medos pareciam surgir das percepções dos participantes de sua própria “competência” social; eles temiam não articular o elogio corretamente.

“Acontece que o destinatário não dá a mínima para isso”, diz Epley.

“Eles só se importam com o quanto o elogio é bom ou amável.”

(O estudo está aguardando publicação no Journal of Personality and Social Psychology.)

“Trata-se de fazer com que a outra pessoa se sinta percebida”, diz Zhao.

Agenda de elogios

É claro que existe o perigo de você exagerar.

Se você elogiar excessivamente um amigo, parceiro ou colega, ele pode ficar cansado ou até mesmo começar a achar que é um pouco desagradável.

No entanto, pesquisas adicionais de Epley e Zhao sugerem que essa reação também é muito menos provável do que podemos acreditar.

Neste estudo, eles recrutaram novamente pares de participantes que já se conheciam.

Um membro de cada par foi convidado a escrever cinco elogios distintos para seu conhecido.

Os pesquisadores fizeram então estes elogios ao destinatário, aos poucos, ao longo da semana seguinte — um elogio por dia.

De uma maneira geral, o prazer dos destinatários em ouvir os elogios não diminuiu ao longo da semana.

“Eles se sentiam muito bem, todos os dias”, diz Epley.

Se você pretende aplicar esta pesquisa por conta própria, Bohns enfatiza a importância do contexto.

Obviamente, não é apropriado elogiar a aparência de alguém se houver algum risco de você estar objetivando essa pessoa.

“A etiqueta é se ater a elogios que realmente transmitam o valor social de alguém”, diz ela.

Isso pode incluir elogios a uma apresentação ou à maneira como alguém lidou com um cliente difícil.

Se você tem um pensamento que demonstra respeito genuíno por outra pessoa, a mensagem da pesquisa científica é clara: compartilhe.

Ao contrário do aforismo de Twain, você não precisa de nenhum dom raro para mostrar seu apreço pelas melhores qualidades de alguém.

“Não custa nada”, diz Zhao.

“É uma maneira muito eficiente de fazer outras pessoas se sentirem felizes.”

Fonte: BBC Brasil

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