A caixa preta é constituída por sistemas eletrônicos de gravação que automaticamente registram todos os dados relativos ao voo, assim como os últimos 30 minutos de conversação na cabine de comando – informações vitais para os peritos que investigam as causas de um possível acidente aéreo. Ela possui dois mecanismos de gravação:
Cockpit Voice Recorder (CVR) – grava tudo o que é captado por, geralmente, três microfones: um do comandante, um do copiloto e outro que fica em um painel na parte de cima da cabine, pegando o som ambiente.
Flight Data Recorder (FDR) – registra os chamados parâmetros, que podem ser: a velocidade do avião (tanto em relação ao vento quanto ao solo), as posições em que os manetes (alavancas que controlam as turbinas) foram colocados, o momento em que determinados botões foram acionados, etc.
Muitos aviões têm o CVR e o FDR em caixas-pretas separadas, mas a tendência é que eles fiquem juntos, como nas caixas mais modernas.
Para resistir aos choques, as caixas pretas ficam na cauda da aeronave e são fabricadas com materiais ultraresistentes, como titânio ou fibra de carbono, podendo suportar temperaturas superiores a 1000º Celsius. “A caixa preta tem uma bateria que garante seu funcionamento totalmente independente do avião”, diz o projetista de aeronaves Lauro Nei Batista. Em média, uma caixa-preta utilizada por aviões comerciais tem 13 cm de altura por 12 cm de comprimento, podendo pesar cerca 5 kg.
Uma curiosidade em relação à caixa preta é que ela geralmente é laranja e não preta (figura 1), afim de facilitar a sua localização entre os destroços do avião, caso aconteça um acidente, pois a cor laranja chama mais atenção. Além disso, ela carrega duas tiras fosforescentes que refletem luz. O nome “preta” vem de duas explicações: a mais comum é que os primeiros gravadores de dados de aviões, criados no final da década de 1940, na Inglaterra, de fato eram cobertos por uma tampa preta; a segunda tem a ver com um costume, surgido durante a Segunda Guerra Mundial, entre os aviadores da Força Aérea britânica: novos equipamentos eletrônicos, como radares e visores, eram chamados de black boxes, porque frequentemente ficavam acondicionados dentro de caixas de coloração escura.
Mas então, se a caixa preta é tão resistente, por que não usar o mesmo material para construir as próprias aeronaves? Muitas pessoas devem se questionar sobre a possibilidade de se construírem aviões deste material, pois então seriam inquebráveis, ou bem mais resistentes, de modo a resistir a um acidente. Porém, estudos mostram alguns motivos que evidenciam o quanto esta ideia pode ser errada ou ao menos impraticável.
– Resistência:
Você já tentou dobrar com as mãos um pequeno prego de aço? Difícil ou impossível, não? Mas já tentou dobrar uma barra maior, um arame ou outro objeto de aço de dimensões relativas maiores? Ou seja, um objeto muito fino mas bastante comprido. As chances de sucesso aumentam, certo? O mesmo ocorreria com um avião feito do mesmo material das caixas pretas. Suas dimensões permitiriam que o mesmo também se curvasse ou se quebrasse. Ainda mais considerando que, mesmo que as placas de aço ou titânio individualmente fossem inquebráveis, suas juntas, soldas e ligações se tornariam o ponto fraco, podendo ainda ser separadas umas das outras.
– Peso:
Uma das coisas mais caras em um avião é o peso. O peso não somente aumenta a inércia, deixando qualquer movimento ou manobra mais lentos, como também aumenta o consumo de combustível. A tendência mundial é a de se construir aviões com materiais cada vez mais leves. Bons exemplos disso são os modelos mais recentes, como o Airbus A350 e o Boeing 787, que são construídos predominantemente com novos materiais plásticos e com polímeros compostos de fibra de carbono. Estes materiais são mais resistentes que o aço tradicional, mas também são muito mais leves.
– Proteção Ineficiente:
Imagine que um avião fosse feito com os mesmos materiais de uma caixa preta. Agora considere as seguintes situações: você constrói uma pequena caixa feita com o mesmo material de uma caixa preta e coloca um ovo dentro. Depois você sobe até o alto de um prédio e arremessa a caixa com o ovo. A caixa chega ao solo com poucos arranhões porém o ovo está totalmente despedaçado. O mesmo aconteceria com os passageiros caso um avião feito com o material de uma caixa preta se acidentasse. O avião estaria talvez até em melhores condições, mas e os passageiros? Creio que seu estado ainda estaria pior que em um avião tradicional, pois o mesmo absorveria até menos do impacto que os aviões atuais, desta forma transferindo mais força do impacto para nós.
Por estas e outras razões, o uso de materiais de caixas pretas para construir aeronaves seria impraticável, além de não alcançar os objetivos desejados.