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Por que dormir de boca aberta na infância representa risco à saúde por toda vida

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De acordo com estudos publicados nos últimos anos, mais da metade das crianças dorme de boca aberta.

De tão frequente, esse hábito nem sempre chama a atenção ou liga o sinal de alerta de pais e tutores.

Mas médicos ouvidos pela BBC News Brasil destacam que dormir de boca aberta— que tem a ver com alergias, rinites ou o crescimento de estruturas que obstruem o nariz — pode fazer muito mal à saúde.

Essas crianças correm um risco maior de desenvolver as mais variadas complicações, que vão desde cárie e mau hálito a alterações posturais e dificuldade de aprendizado na escola.

Para piorar, esses efeitos deletérios não se limitam à infância: se a respiração pela boca durante a noite não é resolvida logo nos primeiros anos de vida, as repercussões negativas podem se prolongar por toda a vida.

Entenda a seguir o que está por trás dessa condição, todos os prejuízos à saúde e as principais formas de resolver o quadro quanto antes.

Desdobramentos imediatos

Como estrutura externa do sistema respiratório, o nariz tem uma função muito especial: aquecer, umidificar e filtrar o ar que entra pelas narinas.

Na contramão, quando a respiração acontece pela boca, o oxigênio não passa por esse tratamento especial antes de alcançar os pulmões.

Isso por si só já representa um risco. O ar que passa pela boca chega ao tórax cheio de impurezas, seco e numa temperatura inadequada.

“A respiração bucal aumenta o risco de infecções virais ou bacterianas e resfriados repetitivos“, diz o médico Alexandre Ordones, da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).

“O indivíduo também costuma sofrer mais com ardência, pigarros e muco preso no fundo da garganta”, acrescenta.

A boca aberta durante o sono terá efeitos ainda mais profundos na própria formação do rosto daquele indivíduo.

“Os ossos da face não se desenvolvem adequadamente, o que altera a fisionomia. A criança pode ficar com bochechas caídas, olhos tristonhos, olheiras…“, lista a otorrinolaringologista Saramira Bohadana, coordenadora do Programa Aerodigestivo do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo.

“A própria arcada dentária também se altera. O osso maxilar [que dá suporte aos dentes superiores] fica muito fechado e projetado para a frente. Já a mandíbula não cresce como o esperado”, detalha a especialista.

Para completar, essas mudanças no crânio alteram o restante do corpo. “O pescoço acaba retraído, com o queixo para dentro, o tórax se torna encurvado e a barriga fica proeminente“, descreve Bohadana.

E, como se não bastassem todas essas alterações físicas, dormir de boca aberta também provoca consequências bem sérias no cérebro e no comportamento.

Apneia, notas ruins, irritação e xixi na cama

A criança que dorme de boca aberta frequentemente sofre com uma doença chamada apneia do sono.

Ela é caracterizada por interrupções na respiração durante o descanso noturno que, por sua vez, provocam pequenos despertares (muitas vezes, eles nem são percebidos conscientemente).

A questão é que esses microdespertares impedem que a pessoa chegue aos estágios mais profundos do sono, que estão relacionados à consolidação das memórias e do aprendizado.

Agora, imagina o efeito que isso vai ter num cérebro que ainda está em formação.

“Nós temos vários estudos mostrando que a criança que dorme de boca aberta tem um pior desempenho na escola”, revela Ordones.

Uma revisão de pesquisas, feita em 2016 por cientistas da Universidade Federal do Sergipe, por exemplo, demonstrou que crianças que respiram pela boca apresentam com mais frequência dificuldades de aprendizado quando comparados àqueles que utilizam o nariz como fonte principal do sistema respiratório.

Falta de um sono reparador impede a consolidação de memórias e aprendizados no cérebro, o que gera dificuldades na escola

O otorrinolaringologista conta que a falta de um sono reparador também está relacionado à diminuição do foco e ao aumento da irritação nos primeiros anos de vida.

“Não raro, recebemos no consultório crianças que foram diagnosticadas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e até tomam remédios para controlar o quadro. Daí, quando resolvemos o problema da respiração pela boca, a irritação melhora e não há mais necessidade da medicação”, relata.

Por fim, Ordones acrescenta outro fator à extensa lista de consequências: o xixi na cama.

“O hormônio que controla a urina é fabricado durante o sono profundo. Se a produção dele não é suficiente, a criança pequena molha o colchão e muitas vezes não consegue abandonar as fraldas”, ensina.

Diante de tantos efeitos perigosos (e pouco conhecidos), chegou a hora de conhecer o que pode estar por trás dessa dificuldade de respirar pelo nariz entre os pequenos.

As ‘pedras‘ no caminho

De forma geral, a respiração pela boca acontece porque as vias aéreas estão fechadas. Como o oxigênio não transita narina adentro, o corpo usa, então, um trajeto alternativo para manter os pulmões funcionando.

Um dos principais “bloqueadores” do nariz é a rinite, em que há uma reação alérgica a substâncias comuns do ambiente, como poeira, ácaro e pelos de animais.

Quando a pessoa está em crise, a mucosa do nariz engrossa, como resultado de um processo inflamatório, e fica inchada. Para completar, a produção de muco — o popular catarro — termina de entupir os tubos por onde o oxigênio passaria. O muco é produzido numa tentativa do corpo de englobar e expulsar o “agente” causador da alergia.

Outra causa frequente do fechamento nasal (e da necessidade de respirar pela boca) é o crescimento de um tecido chamado adenoide.

“Essa carne esponjosa fica na parte de trás do nariz e faz parte do sistema de defesa do corpo. Quando exposta à poluição ou aos agentes infecciosos, ela aumenta de tamanho e obstrui a passagem do ar”, diz Bohadana.

O inchaço de outras estruturas que ficam na face e no início da garganta, como as amígdalas ou os cornetos inferiores (aquelas “dobrinhas” que temos lá no fundo das narinas), também impede o trânsito do oxigênio nesta região.

Mas como pais e tutores podem suspeitar que a criança está dormindo de boca aberta?

“Na grande maioria das vezes, é possível ouvir um ruído, como o ronco ou uma respiração alta“, aponta Ordones.

“Outros sinais comuns são o travesseiro úmido pelo excesso de saliva que sai da boca e um sono muito agitado, daqueles que a criança se debate, roda na cama e acorda de cabeça pra baixo”, complementa o otorrino.

Antecipar o diagnóstico (e o tratamento) é fundamental

Independentemente de qual for a origem, os médicos insistem que descobrir o problema logo nos primeiros anos de vida traz benefícios para a vida toda.

“Se a gente faz intervenções antes dos quatro anos de idade, conseguimos reverter completamente a maioria das modificações ósseas e musculares“, destaca Bohadana.

Que fique claro: o tratamento pode melhorar a saúde e a qualidade de vida em qualquer faixa etária, mas os efeitos benéficos serão bem maiores quando ele é feito ainda na primeira infância.

Ao perceber qualquer sinal de que a criança dorme de boca aberta, portanto, o primeiro passo é buscar um otorrino para uma avaliação inicial.

No próprio consultório, o médico pode realizar exame chamado nasofibroscopia, em que uma pequena câmera é introduzida nas narinas para visualizar todas as estruturas internas e conferir se algo está inchado ou fora de lugar.

O inchaço de outras estruturas que ficam na face e no início da garganta, como as amígdalas ou os cornetos inferiores (aquelas “dobrinhas” que temos lá no fundo das narinas), também impede o trânsito do oxigênio nesta região.

Mas como pais e tutores podem suspeitar que a criança está dormindo de boca aberta?

“Na grande maioria das vezes, é possível ouvir um ruído, como o ronco ou uma respiração alta”, aponta Ordones.

“Outros sinais comuns são o travesseiro úmido pelo excesso de saliva que sai da boca e um sono muito agitado, daqueles que a criança se debate, roda na cama e acorda de cabeça pra baixo”, complementa o otorrino.

Antecipar o diagnóstico (e o tratamento) é fundamental

Independentemente de qual for a origem, os médicos insistem que descobrir o problema logo nos primeiros anos de vida traz benefícios para a vida toda.

“Se a gente faz intervenções antes dos quatro anos de idade, conseguimos reverter completamente a maioria das modificações ósseas e musculares”, destaca Bohadana.

Que fique claro: o tratamento pode melhorar a saúde e a qualidade de vida em qualquer faixa etária, mas os efeitos benéficos serão bem maiores quando ele é feito ainda na primeira infância.

Ao perceber qualquer sinal de que a criança dorme de boca aberta, portanto, o primeiro passo é buscar um otorrino para uma avaliação inicial.

No próprio consultório, o médico pode realizar exame chamado nasofibroscopia, em que uma pequena câmera é introduzida nas narinas para visualizar todas as estruturas internas e conferir se algo está inchado ou fora de lugar.

Se o problema estiver relacionado com a rinite, o tratamento envolve algumas mudanças no ambiente em que a criança vive (como eliminar carpetes, bichos de pelúcia e outras fontes de poeira e ácaro do quarto, por exemplo) e a prescrição de medicações que regulam a inflamação e aliviam as crises de espirros e nariz entupido.

Agora, caso seja detectado um aumento da adenoide (que não é revertido por completo com o controle da alergia), das amígdalas ou dos cornetos inferiores, é preciso partir para uma cirurgia.

“O procedimento é relativamente simples, a criança costuma receber alta no mesmo dia e a dor no pós-operatório é bem tolerável”, esclarece Bohadana.

“Em média, depois de sete dias a criança já está bem e recuperada.”

A otorrino reforça que, quanto antes a cirurgia for feita, melhores serão os resultados.

“Às vezes, os pais ficam com medo e preferem esperar o filho crescer um pouco antes de remover a amígdala ou a adenoide, até porque acham que isso pode prejudicar a imunidade”, comenta.

“Nós sabemos que, caso essas estruturas sejam removidas, outras partes do sistema de defesa podem suprir as necessidades.”

“E isso sem contar que a espera para fazer cirurgia pode piorar ou aprofundar todas aquelas sequelas da respiração bucal”, finaliza a especialista.

Além da intervenção com o bisturi, em muitos casos também é necessário fazer sessões de fonoaudiologia, com o objetivo de fortalecer os músculos do rosto e exercitar a entrada do ar pelas narinas.

Isso tudo garante uma respiração mais tranquila e saudável, que ocorra pelo resto da vida através do caminho mais adequado: o próprio nariz.

Fonte: BBC Brasil

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