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Aprendizado

Como aprender qualquer coisa em qualquer idade

Nicole Rizzutti Lemos

Publicado

em

Tempo de Leitura: 5 minutos

O fascínio de Tom Vanderbilt pelo processo de aprendizagem ao longo da vida começou com os hobbies da filha: piano, futebol, taekwondo. Ele queria encorajá-la em suas novas atividades e a acompanhava nas aulas e torneios.

Enquanto ela exercitava a mente, ele respondia e-mails, se divertia no celular ou olhava para o nada até a filha terminar. E logo reconheceu a hipocrisia da situação.

“Eu estava incutindo nela a importância de aprender todas essas diferentes habilidades”, afirma. “Mas ela poderia facilmente ter me perguntado: ‘Por que você não faz todas essas coisas, então?'”

A começar com aulas de xadrez, ele decidiu passar um ano desenvolvendo uma série de novas habilidades. Aprendeu a cantar, desenhar, fazer malabarismos e surfar.

Em nenhum momento, ele esperava dominar totalmente essas habilidades ou mostrar suas proezas com um feito extraordinário, como ganhar a competição televisiva American Idol.

“Como adultos, nós imediatamente colocamos pressão sobre nós mesmos com objetivos”, diz ele. “Sentimos que não podemos nos dar ao luxo de aprender só pelo aprendizado.

Em vez disso, ele queria desfrutar do prazer do processo.

Vanderbilt detalha sua jornada no livro Beginners (“Principiantes“, em tradução livre), de janeiro de 2021, que combina suas experiências pessoais com a ciência de ponta por trás da aquisição de habilidades.

Ansioso para saber mais, conversei com ele sobre os mitos da aprendizagem de adultos e os benefícios substanciais que a “mentalidade de principiante” pode trazer para nossas vidas.

Como aprender bem

Começando o projeto com quase 40 anos, Vanderbilt sabia que teria dificuldade de corresponder às habilidades de aprendizagem de crianças, como sua filha.

As crianças são especialmente boas em captar padrões implicitamente — entendendo que certas ações levarão a determinados tipos de eventos, sem qualquer explicação ou descrição do que estão fazendo.

Depois dos 12 anos, no entanto, perdemos parte dessa capacidade de absorver novas informações.

Mas não devemos ser muito pessimistas em relação às nossas próprias habilidades.

Embora os adultos possam não absorver novas habilidades tão facilmente quanto uma criança, ainda temos “neuroplasticidade” — capacidade do cérebro de se reprogramar em resposta a novos desafios.

Em seu ano de aprendizado, Vanderbilt conheceu muitas pessoas que já passaram da meia-idade e ainda exerciam esse “superpoder“.

As crianças estão programadas para aprender — mas isso não significa que os adultos não sejam capazes

Além disso, a pesquisa de Vanderbilt revelou alguns princípios básicos de um bom aprendizado que qualquer pessoa pode usar para tornar o aprendizado mais eficaz. O primeiro pode parecer óbvio, mas esquecemos facilmente: precisamos aprender com nossos erros.

Portanto, em vez de apenas repetir as mesmas ações sem pensar, precisamos ser mais focados e analíticos, refletindo sobre o que fizemos certo e o que fizemos de errado. (Os psicólogos chamam isso de “prática deliberada”.)

Vanderbilt notou isso ao jogar xadrez. Você pode passar horas jogando online, mas isso não seria tão eficaz quanto estudar as estratégias de profissionais ou discutir os motivos de suas derrotas com um professor de xadrez.

O segundo princípio é mais contraintuitivo: precisamos nos certificar de que nossa prática seja variada. No malabarismo, por exemplo, trocar os objetos, ou a mudar a altura em que você os lança, foi útil para ele, que tentou sentado e enquanto caminhava.

Como um cientista disse a Vanderbilt, isso é “repetição sem repetição” e força os padrões aprendidos do cérebro a se tornarem mais flexíveis, permitindo que você lide com dificuldades imprevisíveis — como um erro em um de seus movimentos anteriores que pode fazer com que você perca o controle.

Mais intrigante ainda, Vanderbilt descobriu que muitas vezes aprendemos melhor quando sabemos que teremos de ensinar a mesma habilidade a outros.

Não está claro por que isso acontece, mas essa expectativa parece aumentar o interesse e a curiosidade das pessoas, o que estimula a atenção do cérebro e ajuda a garantir que ele estabeleça traços de memória mais fortes. (Vanderbilt teve muitas oportunidades de ensinar o que havia aprendido, já que frequentemente incluía sua filha em seus projetos.)

Portanto, seja o que for que você esteja tentando dominar a nível pessoal, considere compartilhar essa habilidade com alguém que você conhece.

E embora você possa achar proveitoso observar verdadeiros especialistas executando uma habilidade, Vanderbilt descobriu que também pode ser útil acompanhar outros novatos, uma vez que você pode analisar mais facilmente o que eles estão fazendo certo e o que estão fazendo de errado.

Com esse conhecimento, Vanderbilt progrediu bastante em cada uma das habilidades que se propôs a aprender. Cantar, diz ele, era um dos maiores obstáculos, emocionalmente: “Esse processo de se abrir para um estranho da forma mais crua”, explica.

Quando ele superou esse nervosismo, no entanto, cantar também se revelou a atividade mais gratificante.

É a coisa a que eu provavelmente me doei ao máximo, porque tem um prazer inerente e faz você se sentir tão bem.”

Ele acabou se tornando membro do coral de Britpop de Nova York.

Vanderbilt diz que aprimorar suas técnicas de ilustração exigiu menos investimento de tempo do que ele imaginava

Se você está inspirado a começar uma nova atividade sozinho, Vanderbilt aconselha começar com algo que seja fácil de integrar ao seu atual estilo de vida. Você pode se surpreender com a velocidade do seu progresso, diz ele.

“Muitas pessoas ficam presas à ideia de que isso é apenas um grande investimento de tempo — que é um caminho sem fim —, e isso é muito assustador para elas.”

Ele descobriu que os traços dos seus desenhos, por exemplo, haviam melhorado significativamente no tempo que normalmente levaria para maratonar uma série de TV.

O fator ‘por quê’

Você ainda pode se perguntar por que deveria fazer esse esforço, quando poderia estar à toa no sofá.

Mas Vanderbilt destaca que há muitos benefícios em abraçar qualquer nova habilidade — incluindo algumas mudanças cerebrais de longo prazo que poderiam compensar parte do declínio mental que geralmente vem com o envelhecimento.

Ele cita um estudo com adultos — de 58 a 86 anos — que fizeram vários cursos em áreas como espanhol, música, composição e pintura.

Depois de alguns meses, eles não apenas haviam feito um bom progresso nas respectivas habilidades individuais, como também apresentaram uma melhora pronunciada em testes cognitivos mais amplos — que correspondia ao desempenho de adultos 30 anos mais jovens.

Curiosamente, esses benefícios pareciam ser provenientes da experimentação de várias habilidades, em vez de terem focado exclusivamente em uma em particular.

Como Vanderbilt escreve em seu livro: “Em vez de correr uma maratona, você está submetendo seu cérebro a uma variedade de exercícios intervalados de alta intensidade. Cada vez que você começa a aprender essa nova habilidade, você está reconfigurando. Está treinando seu cérebro novamente para ser mais eficiente.”

Temos a tendência de ver o ‘diletante‘ como alguém superficial e sem dedicação. Mas parece que aqueles que são ‘pau para toda obra’ — o eterno principiante — podem ter um cérebro mais aguçado do que os mestres em uma única habilidade.

A busca de vários interesses diferentes ao longo da vida pode até aumentar sua criatividade.

Como David Epstein observou no livro Range, os ganhadores do Prêmio Nobel eram muito mais propensos a desfrutar de atividades artísticas como música, dança, artes visuais ou escrita criativa do que outros cientistas.

Conforme você começa a aprender uma nova habilidade, haverá momentos de frustração e de fracasso — mas essas podem ser, na verdade, as experiências mais importantes de todo o processo.

Depois de anos de experiência no jornalismo, Vanderbilt diz que os novos desafios foram uma mudança bem-vinda em seu “comodismo profissional”.

“Meio que abriu minha mente e me trouxe de volta essa sensação de não saber“, diz ele.

Isso se aplicou especialmente a habilidades que já pareciam de alguma forma familiares — como desenhar.

“O aprendizado da coisa em si era, muitas vezes, diferente do que eu imaginava. Minhas expectativas eram constantemente contrariadas.

Várias pesquisas têm mostrado que a humildade intelectual — a capacidade de reconhecer os limites do nosso conhecimento — pode melhorar fortemente nosso pensamento e tomada de decisão.

E essa capacidade de reconsiderar nossas ideias preconcebidas e abrir nossas mentes para novas formas de pensar pode ser cada vez mais importante no mundo em rápida mudança de hoje.

Quer estejamos aprendendo por prazer ou tentando aperfeiçoar nossas habilidades profissionais, todos nós podemos ser bem-sucedidos ao cultivar essa.

Fonte: BBC Brasil

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