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Hollywood: por que a indústria cinematográfica está mais dependente do que nunca da tecnologia dos videogames

João Marcos Lemos

Publicado

em

Tempo de Leitura: 4 minutos

A tecnologia usada nos jogos de videogame está mudando a maneira como os filmes são feitos em Hollywood.

Essa é a opinião de Kim Libreri, um premiado profissional especializado em efeitos visuais que trabalhou em diversos filmes famosos, como Inteligência Artificial e Planeta dos Macacos: A Guerra.

Por nove anos, Libreri trabalhou com a Unreal Engine, uma tecnologia muito conhecida por seu uso em jogos de computador, em particular o famoso Fortnite.

Essa tecnologia, de propriedade da Epic Games, oferece os componentes e ferramentas que um desenvolvedor de jogos de computador precisa, mas também cativa cada vez mais os produtores de cinema e televisão.

Sua versão mais recente, a Unreal Engine 5, estará disponível em 2021 e permitirá que artistas visuais como Libreri coloquem gráficos e imagens diretamente em uma cena sem muita dificuldade.

“Na produção tradicional de filmes, um diretor e um diretor de fotografia podem filmar uma cena no set e, posteriormente, entregar essas cenas e a direção criativa a uma equipe de artistas e designers de realidade virtual, que aprimoram esse material com efeitos visuais e imagens geradas por computador durante uma etapa separada de produção”, diz Libreri, que atualmente é diretor de tecnologia da Epic Games.

Mas com o uso da Unreal Engine, a colaboração entre o diretor, o diretor de fotografia, o designer de produção e as equipes de realidade virtual pode ser feita simultaneamente como um processo interativo no set.

“A Unreal Engine 5 promete melhorar ainda mais o processo artístico, facilitando que mundos virtuais desenvolvidos para filmes e televisão sejam capturados e executados com o mesmo mecanismo de jogos em tempo real”, explica Libreri.

Anthony Hunt é o diretor-executivo da Cinesite, um grupo multinacional de entretenimento digital, cujo trabalho com efeitos visuais incluem sucessos de bilheteria como Vingadores: UltimatoIndependence Day: RessurgimentoHomem de Ferro 3 e outros.

A empresa usou recentemente a Unreal Engine em um espetáculo ao vivo em um parque temático, que inclui cenas de perseguição, trocas de socos e saltos que desafiam a morte.

“Tudo acontece na sua frente, com artistas ao vivo, acessórios interativos e uma imensa tela de LED, o que torna impossível determinar onde a ação ao vivo termina e onde a tela começa”, diz Hunt.

Extras e multidões virtuais

A indústria cinematográfica pega emprestado há muito tempo a tecnologia da indústria de videogames.

Os processos de produção, como o mapeamento de cenas em 3D por meio do uso de fotografias, storyboards e animações, usam sistemas semelhantes aos desenvolvidos ​​para criar jogos.

Mas é provável que os desafios da produção de filmes e televisão sob as restrições impostas pela pandemia do coronavírus acelerem o uso da tecnologia dos jogos.

Por exemplo, os mecanismos de videogame são particularmente bons para gerar cenas em que grandes multidões aparecem.

“Um extra tem que ser alimentado, vestido e alojado em um set de filmagem. Agora podemos replicar grandes cenas de multidões com a tecnologia de computador e ter apenas nossos atores principais em primeiro plano”, diz Hunt.

Um bom exemplo disso é encontrado em Rocketman, o musical sobre a primeira fase da carreira de Elton John.

Há uma cena que mostra o estádio do Los Angeles Dodgers completamente lotado, mas, na verdade, o ator Taron Egerton fez sua atuação no Shepperton Studios, na Inglaterra. As multidões que aparecem são gráficos 3D projetados para fazer parte de uma cena maior.

Decorações geradas por computador podem ser combinadas com paredes gigantes de LED, formadas pela união de inúmeras telas individuais.

O Estádio Dodger de Los Angeles foi praticamente recriado para o filme Rocketman

“As paredes de LED estão se tornando mais populares na produção de filmes e televisão porque permitem que os cineastas captem efeitos visuais na câmera e manipulem objetos digitais em uma cena em tempo real”, diz Libreri.

“Os painéis de LED como os que vemos em The Mandalorian, da Disney (uma série de televisão de ficção científica que faz parte da família Star Wars), serão de grande utilidade para as produções no set, uma vez que as restrições comecem a aumentar, já que os cineastas podem reduzir viagens criando fundos digitais fotorrealistas para imitar qualquer local”, continua ele.

“Quando as restrições de filmagem forem suspensas, os diretores terão um plano claro de o que e como filmar seus filmes e séries de televisão porque eles já fizeram isso no computador”, diz Hunt.

Personalidades em ascensão

O que isso significa para os atores, para a equipe principal e a equipe de apoio que trabalham na indústria?

“Existe a possibilidade de que as necessidades relacionadas ao equipamento de produção mudem de alguma forma. Alguns papéis podem mudar com o uso continuado de imagens geradas por computador e talvez outros papéis sejam criados”, diz Daniel Green, diretor do Programa de Gerenciamento da Indústria de Entretenimento da Universidade Carnegie Mellon.

Ele acrescenta que, quando a produção voltar ao normal, o setor precisará se unificar e fazer alterações para garantir que seja dada prioridade à segurança no emprego.

Os executivos e produtores dos estúdios deixarão de tomar decisões baseadas apenas na visão artística e nos custos de produção.

“Eles agora estarão em contato próximo com as autoridades de saúde pública para garantir que os atores e toda a equipe possam ter um ambiente de trabalho seguro”, acrescenta ele.

Green também acredita que, embora as imagens geradas por computador ajudem a criar mundos realistas que são divertidos, a chave ainda é contar uma boa história.

“O uso de IGCs e da produção virtual, como foi feito no remake de Rei Leão, pode aumentar o que pode ser mostrado na tela, mas, no final, o público ainda vai querer se divertir com uma história que os cative”, diz.

Travis Cloyd, diretor de tecnologia da CMG Worldwide, uma empresa que representa 1.700 celebridades, atletas, músicos, marcas e figuras históricas, vê outro uso para os mecanismos dos videogames.

Ele enxerga uma grande oportunidade de negócios se deciderem “ressuscitar” figuras históricas e personagens famosos do passado, como James Dean ou Rosa Parks através de “gêmeos digitais”.

Ele observa que o público já tem uma consciência pré-construída dessas pessoas famosas. “Eles sempre ressoam com o público e a expansão de novas plataformas em meio à pandemia trará novas oportunidades para usá-las em um grande número de mídias”, diz Cloyd.

É provável que tecnologias como a Unreal Engine sejam usadas para tornar esse processo uma realidade.

Como fazer filmes é um negócio, obviamente também se espera que a nova tecnologia economize tempo e dinheiro.

“Menos coisas precisarão ser resolvidas no set e na pós-produção, e haverá menos necessidade de viagens e filmagens caras. Quando as pessoas experimentarem essa nova maneira de trabalhar, descobrirão que é muito mais eficiente e lucrativa”, diz Libreri.

“É seguro dizer que a produção virtual chegou para ficar”, prevê.

Fonte: BBC

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