Nunca focamos tanto em saúde como temos focado neste ano, por conta da pandemia. Percebemos a importância de nos cuidar e aprendemos até mesmo como usar a tecnologia ao nosso favor. No entanto, ainda que a saúde física seja de suma importância, a saúde mental é que está em evidência. Com isso em mente, o primeiro passo é esclarecer: o que é saúde mental? No que ela interfere?
A princípio, é necessário entender que não existe uma definição oficial para o conceito de saúde mental, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, segundo o médico psiquiatra Marcelo Kimati, professor de Saúde Coletiva na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e integrante da diretoria da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), a saúde mental individual diz respeito à experiência de bem-estar, pela possibilidade de lidar com conflitos que são esperados em diferentes momentos da vida.
No entanto, o especialista ressalta que a definição de doenças mentais se modifica de tempos em tempos. “Não é possível definir saúde mental com referência exclusivamente individual. As pessoas desenvolvem formas diferentes de experimentar sua vida cotidiana de acordo com os referenciais da cultura e das relações sociais que elas estabelecem ao longo de suas vidas. Assim, as relações sociais e a sociedade em que se vive são definidoras para ser ou não saudável mentalmente“, explica o psiquiatra.
Enquanto isso, a psicanalista e supervisora clínica Sandra Hott observa que as ciências da saúde não trabalham com uma ideia dualista, ou seja, de mente e corpo como instâncias separadas, e define saúde mental como “um equilíbrio diante da instabilidade”. “Uma vida saudável depende diretamente de como administramos o mal-estar advindo das variações constantes que ocorrem entre momentos de alguma estabilização. Desafios são naturais e esperados, mas o modo como os compreendemos, e o encaminhamento dado para alguma decisão é que fará toda a diferença entre o adoecimento e uma vida psíquica saudável“, opina.
Saúde mental no dia a dia
Tendo o conceito de saúde mental mais claro, vem a questão à mente: de que maneiras podemos cuidar dela ao longo do nosso cotidiano? De acordo com Marcelo, a primeira medida para isso é nos conhecermos, e a segunda seria estabelecer vínculos saudáveis.
“Estar atento a movimentos autodestrutivos; ter autocuidado, ser cuidadoso com suas relações significativas, ter tempo para o prazer; estabelecer objetivos baseados na compreensão do que de fato se quer; aprender a reconhecer limites e aceitar impossibilidades cotidianas; ser capaz de sonhar e alimentar-se disso e mover em direção a sonhos“, exemplifica o psiquiatra. “Não entenda sofrimento como doença, não entenda infelicidade como doença. Tudo isso diz respeito a um autocuidado que é fundamental para preservar a própria saúde mental“, acrescenta.
De qualquer forma, não hesite em procurar ajuda de um profissional dessa área. Isso ajuda a evitar que o sofrimento seja medicalizado e se desenvolva uma dependência a psicotrópicos. Procure um profissional de saúde mental. “Se ele entender que é necessária ajuda médica, ou seja, que o sofrimento apresentado configura uma doença mental, ele irá encaminhá-lo a um psiquiatra“, orienta Marcelo.
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